O meu atendimento não é como a psiquiatria contemporânea, que resume a dor do indivíduo em um diagnóstico que é "solucionado" com um ou mais psicofármacos. Procuro acessar peculiaridades da vida cotidiana desde a infância até a dinâmica estabelecida ao longo da vida que demandaram ou evocaram o transtorno em questão. Sendo que, caso esteja presente, o diagnóstico é clarificado tanto de acordo com uma lógica existencial quanto a apontamentos para algumas mudanças necessárias. Isso vai impulsionar e aprofundar o processo terapêutico, colocando o remédio no seu lugar - o de remediação - ao mesmo tempo que ocorrerá um direcionamento quanto a novas formas de mediar a vida e, com isso, não haver mais a necessidade psíquica de ter o transtorno ou de intermediá-la da melhor maneira possível, se for o caso. Assim, o uso do medicamento é mais eficaz, não por exclusiva remissão de sintomas mas por apropriação das tensões singulares da pessoa e inerentes a todos nós, de forma a demonstrar que cada tensão é como uma alavanca para a alma. Isso pode não caber para todas as situações, devido a uma variação do grau de adoecimento, da gravidade em si do transtorno e da disponibilidade do indivíduo em se conhecer. Eu dou sentido à dor e, por conseguinte, ao indivíduo, que torna-se sujeito atuante na própria vida, um autor das próprias ações. Essa autoridade que nos torna plenos em si mesmos, diante do outro e das circunstâncias, perante a eternidade.